A perda e o luto são frequentemente associados à morte de um ente querido. No entanto, investigações recentes têm demonstrado que outras formas de perda podem gerar processos de luto igualmente intensos e desafiantes. Neste contexto, a investigadora do CIDTFF da Universidade de Aveiro participou no programa Consultório do Porto Canal, no passado dia 11 de fevereiro, para abordar a perda não-morte, um conceito que abrange diversas situações que podem desencadear reações e sintomas similares às do luto por morte.
(reveja AQUI o programa).
➞ Diferentes Tipos de Perda Não-Morte
Os investigadores identificam várias formas de perda não-morte, nomeadamente:
- Afastamento da pessoa amada, causado por divórcio, separação conjugal, emigração ou alienação de familiares/amigos;
- Diagnóstico de doença terminal, que provoca um luto antecipatório tanto na pessoa diagnosticada como nos seus entes queridos;
- Perda gestacional e perinatal, uma experiência marcada pelo chamado luto desautorizado, muitas vezes desvalorizado pela sociedade;
- Nascimento ou desenvolvimento de uma deficiência num filho/a, que dá origem ao luto não-finito, reativado em momentos-chave da vida familiar;
- Perda ambígua, que pode ser física, como no caso de desaparecimento de uma pessoa, ou psicológica, como acontece com doenças neurodegenerativas, incluindo a demência;
- Desemprego, que pode comprometer a identidade e a estabilidade emocional do indivíduo;
- Amputação de membros, que representa uma perda significativa da autonomia e pode gerar um processo de luto profundo.
➞ Especificidades do Luto na Perda Não-Morte
Embora todas essas perdas sejam eventos de mudança de vida, cada uma tem características próprias que influenciam a duração e a forma do luto. Um exemplo é o luto antecipatório, vivido por pacientes e familiares após o diagnóstico de uma doença terminal, oscilando entre a esperança e a desesperança.
Já o luto desautorizado é frequentemente observado em casos de perda gestacional. Frases como “Ainda és nova, podes ter outros filhos” retiram à mulher o direito de processar e integrar a sua perda, agravando o impacto emocional dessa experiência.
Por outro lado, pais de crianças com deficiência vivenciam um luto não-finito, que se intensifica em momentos de transição do ciclo vital da família, como, por exemplo, o início da escolaridade ou a adolescência. Este luto renova-se sempre que expectativas são confrontadas com a realidade, gerando sentimentos de tristeza e frustração.
A perda ambígua leva à angústia crónica, um estado emocional marcado pela incerteza e pela dificuldade em encontrar um desfecho para a perda. Este tipo de luto exige um esforço contínuo de adaptação à imprevisibilidade da situação.
➞ O Papel do Apoio ao Luto
Independentemente do tipo de perda, o objetivo da pessoa enlutada é encontrar equilíbrio na sua nova realidade. O apoio ao luto, seja através de grupos de apoio ou acompanhamento especializado, desempenha um papel crucial na adaptação à perda e na prevenção de complicações emocionais, cognitivas e comportamentais.
A participação da investigadora do CIDTFF no programa Consultório do Porto Canal reforça a importância de discutir e reconhecer a perda não-morte como um processo legítimo de luto. Sensibilizar a sociedade para estas formas de perda contribui para uma maior compreensão e apoio às pessoas que vivenciam estas experiências.
Pode rever o programa AQUI.